Tudo o que eu evitei, durante tanto tempo, é agora o que me faz abrir os olhos pela manhã. Foi difícil pra eu admitir isso, mas o amor também me pegou. A verdade é que, mais dia, menos dia, ele vai pegar a todos nós. Uns para sempre, outros, de uma maneira tão fulminante que, tudo o que deveria acontecer em uma vida, acontece em poucos dias. Espero que comigo seja para sempre.
A sensação que ele provoca é mágica. O prazer que o amor me causa é justamente esse: a felicidade do outro me deixa mais feliz que a minha própria. Mas também não são só flores. Existe o ciúme, de tudo, dos amigos, dos parentes, da sombra. Ciúmes até de quem a abraça, porque, por um momento, alguém está segurando o meu mundo inteiro.
É difícil comportar o coração no peito em tempos como esse, porque pior do que carregar um coração partido, é carregar um coração apaixonado. Porque o partido dói, simplesmente. Por mais insuportável que seja, ainda é apenas dor. Já o apaixonado não; ele pára, dispara, diminui de tamanho, fica apertado e também dói; de repente fica enorme, não cabe no peito, faz querer gritar e pede, implora por presença quando tudo o que se tem é a ausência.
A distância é o mal do século, pelo menos pra mim. A distância que me separa da minha outra metade, da pessoa que me completa, que me tortura todas as noites por não a ter comigo. Ela intensifica tudo, tanto as emoções boas quanto as ruins. A sensação de impotência, quando você ouve um "venha me buscar" e não pode fazer isso, tudo isso complica. A distância implanta dúvidas terríveis, sobre tudo e todos. A gente nunca sabe se vai dar certo, nós simplesmente arriscamos. Certeza é pra gente que não ama o suficiente.
Os obstáculos são incontáveis, mas servem de estímulo. A paixão aumenta em função de tudo aquilo que se opõe à ela. A monstruosidade do amor consiste na infinita vontade, nos desejos ilimitados, controlados pelo limite.
É, ele me pegou também.