Lembro que guardei os meus sonhos em algum lugar e ainda não consegui encontrá-los de novo. Pelo menos os bons, aqueles que vêm das lembranças que nunca se tornaram lembranças de verdade, porque nunca permiti que se tornassem passado. A única coisa que me visita nos sonhos é a dor e o medo da dor. Parece absurdo que alguém possa sofrer com esse céu estrelado, parece exagero dizer que um não dói mais que uma úlcera. Eu gostaria de saber onde estão os hematomas deixados por essas dores, para que eu possa curá-los.
É preciso respeitar as dores invisíveis, pois são elas que doem mais, essas que sangram por dentro. Não adianta assoprar, que não passa. Tenho um respeito muito grande por quem, assim como eu, sofre em silêncio. Essas pessoas que perderam alguma coisa pelo caminho, uma parte de si e sabem que não dá pra reencontrar. Nenhum incômodo se compara à dor de uma vida alterada para sempre. Só quem sente tal dor sabe o tormento que ela causa, só quem perdeu algo importante consegue enxergar o pedaço que falta no próprio corpo.
Perdi os meus sonhos. Quem me vê pode até pensar que está tudo bem, mas eu consigo ver a falta que eles me fazem. A falta de perspectiva me assusta muito. Começar e não terminar. É assim o tempo todo. Meus sonhos acabaram e só ficou o vazio, a escuridão, essa vontade de parar e desistir de tudo. Vou me destruindo pouco a pouco, tentando entender porque certas coisas chegaram ao fim. Eu sei que deveria, mas não consigo continuar. Me sinto presa em minha própria dor, presa em meus próprios pesadelos. Não ter sonhos é como engolir vidro: arranha a garganta, sufoca a respiração, mata.
Sou vítima dos sonhos adiados, dos que caíram no chão e não consegui mais encontrar.