É por falta de companhia, por opção ou destino mesmo. Irremediavelmente sozinha. Porque quando você acha a maioria das pessoas normais demais, você passa mesmo muito tempo sozinho. Ou quando elas te acham diferente demais, ainda não sei.
Às vezes penso que meu futuro será sempre pedindo um quarto de solteiro ou uma mesa pra um. Mas eu ainda tenho escolha, e a estrada vazia é sempre a mais atraente. Minha cabeça funciona a um ritmo infernal. É sinceridade demais, intensidade demais e isso assusta. Te assusta, me assusta. Esse conflito comigo mesma, que acontece todos os dias, é confusão demais pra eu deixar que as pessoas se aproximem. Caso haja uma explosão, os estilhaços tem um alcance muito grande.
Acontece também, que quando se caminha sozinha, qualquer um que pareça ser diferente dessa maioria formatada, qualquer um que tenha um mistério a mais, acaba se tornando irresistivelmente tentador. As portas sempre ficam abertas pra qualquer estranho-parecido que queira entrar e bagunçar o interior de quem caminha sozinho.
O relógio, há muito esquecido, não faz diferença alguma. Os dias passam como horas, as pessoas normais-diferentes vêm e vão tempo todo, sem deixar marca alguma. Insensibilidade. Sempre somos acusados por sermos insensíveis. É que a miséria do mundo não consegue ser maior que a miséria interna, não temos culpa. Talvez tenhamos, mas tudo bem. Falta interesse, falta empatia, falta tudo. Menos o silêncio. Silêncio tem demais, e é bom.
O amor. É, estava demorando. Mas não há muito o que dizer do amor. É simplesmente uma palavra de quatro letras, que nunca é dita por nós, os que caminham sozinhos. Se te incomoda, não é problema. Talvez seja essa nossa única função. Se você se identifica com algum de nós, puxe uma cadeira e sente-se.
Enquanto nós continuamos caminhando sozinhos.
Enquanto nós continuamos caminhando sozinhos.