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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O inevitável


É simplesmente injusto. Caso perdido, daqueles que não se tem a quem recorrer. O único mal irremediável que torna todos os homens iguais. É a única certeza de todo ser vivo. Uma hora se envelhece, e morre. Ou morre sem envelhecer, mas morre. Acho a morte nada demais, na verdade. Como ninguém sabe o que há depois, só especulações, crenças. Não fico me angustiando diante de prováveis ideias sobre o que seja "morrer". Lá a gente vê. Mesmo que 'lá" seja o nada, o silêncio. Pior é pra quem fica, por causa da saudade. Essa é velha conhecida. Comprovada, entranhada na carne e na alma.
O que me irrita, me indigna é a brevidade da vida. Porque é chegar ao ápice, ao cume da montanha, e perceber que dali pra frente é só ladeira abaixo. É aí que mora a injustiça dos fatos. Hoje não cheguei nem a metade da vida de um ser humano comum; mas percebo, sem falsa modéstia que nunca estive melhor. Os pensamentos estão cada vez mais rápidos, os joelhos em pleno funcionamento, os sentidos, o auto-conhecimento. A sexualidade, finalmente inteira. Mais sei do que não sei. A junção entre um pouco de sabedoria e vigor físico.
Antes era só vitalidade, energia, flexibilidade. Com o tempo vem o conhecimento das coisas e si próprio, a segurança. Um belo dia essas duas coisas estarão em um único recipiente, em perfeita alquimia. Mas isso dura apenas o tempo do conhecimento, do saber estar-se completo. Depois disso, deve-se, obrigatoriamente, envelhecer. E, por total impotência diante de uma força que não pode ser parada, devemos aprender a fazer o caminho contrário. Dali pra frente será mais cabeça e menos corpo. Pode-se tomar algumas providências, abusar da tecnologia pra tentar adiar esse momento; mas escapatória, não há.
O aspecto estético não é o que mais me tira o sono - claro que não ficarei feliz ao ver minhas bochechas despencarem do rosto. Mas sempre exercitei o desapego físico, nunca confiei tanto nessa coisa de aparência.       Me incomoda a perda de mobilidade, a dificuldade em amarrar os próprios sapatos, o cansaço, a dependência. A morte em vida, isso me apavora. Querer, eu não quero, e acredito que ninguém queira; mas diante do inevitável acontecimento, só nos resta achar bom. Aprender a desprender, a desmaterializar, a volatizar-se até que só reste a consciência. Um dia seremos todos pensamentos. Ou alma, se preferir acreditar.

É por isso que eu tenho pressa. Sempre urgente e faminta, quero tudo. E quero agora.


Texto adaptado.

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